"Há poucos meses, o Diretor-Superintendente da Rádio Jornal do Brasil foi chamado, às pressas, ao Gabinete do Presidente da Comissão Técnica de Rádio, para responder por uma notícia que a emissora não divulgara.
Na ocasião, diante de certas advertências que lhe foram feitas, perguntamos em editorial, quem as havia determinado. Até ontem, o nosso editorial ficou sem resposta. Hoje, porém, podemos dizer que ela nos foi dada de maneira a não deixar mais dúvidas.
O Presidente Jânio Quadros, finalmente, revelou-se. Suspendendo as transmissões da Rádio JB por ela ter divulgado uma notícia sem maior importância, e ameaçando todas as outras emissoras do País, mostrou qual é a sua verdadeira opinião a respeito da liberdade de informações.
E deu-nos a entender que vai usar todos os meios possíveis para calar aqueles que o criticam".
As transmissões da Rádio Jornal do Brasil foram suspensas por três dias, na véspera do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa - pela Comissão Técnica de Rádio, por ordem do Presidente da República, Jânio Quadros.
A medida foi justificada com base na divulgação de uma notícia que afirmou ser falsa e perturbadora para as Forças Armadas.
Tratava-se de um suposto acordo entre Brasil e Argentina para a redução dos efetivos militares e melhor aproveitamento comercial da fábricas de armamento e munição brasileiras. A classe jornalista pronunciou seu enérgico apoio à rádio, a qual contou igualmente com a solidariedade calorosa da opinião pública.
O episódio da suspensão das transmissões da Rádio Jornal do Brasil foi um feito inédito em período de funcionamento do regime democrático no país. Após os três dias, as operações foram normalizadas.
O começo do fim da democracia
Será que o Presidente Jânio Quadros tinha intenções de intrigar uma instituição como o Jornal do Brasil, à época já com a tradição e credibilidade de mais de 70 anos, com outra, também tradicional, mais antiga e imponente, as das Forças Armadas, deturpando o sentido e as intenções de uma notícia?
A resposta não demoraria a chegar. Numa desastrosa e frustrante gestão de sete meses que culminaria em sua renúncia ao cargo de Presidente da República, Jânio acendia o pavio que culminaria, três anos depois, no golpe militar, que colocaria a democracia brasileira à beira de um longínquo retrocesso.